Bom
dia, seu E.T. Tudo bem? Cansou muito da viagem? Então chegou ao lugar certo. Se
tem uma coisa que nós entendemos por aqui é como receber visitantes de outras
paragens. Haja visto nossos aeroportos, verdadeiros símbolos da organização e
da infraestrutura apropriada, necessárias a uma nação de dimensões continentais.
Não sei se na sua nave você trouxe algum veículo terrestre. Caso tenha trazido,
pode ficar sossegado: nossa malha viária também honra o tamanho do país, com
estradas bem construídas e geridas. Se não trouxe, podemos dar um jeito: nossos
veículos automotores saem por preços módicos, condizentes com a realidade
financeira de nossos habitantes. Ainda há a alternativa do transporte
ferroviário, onde nós não cometemos o pecado de achar que se trata de um
transporte obsoleto, típico raciocínio dos deslumbrados. E dentro de nossas
cidades, transporte público não é um problema, pode ficar tranquilo.
Privilegiamos o transporte de massa em detrimento aos veículos individuais,
pois sabemos que um veículo de grande capacidade, novo e bem cuidado, carrega
mais pessoas que apenas um automóvel. Aproveite e já arranje uma bicicleta,
nossas cidades estão prontas para receber os adeptos dos meios de transporte
limpos.
Como
assim, “diferente”? Não tenha medo! Somos uma sociedade multicultural,
multiétnica, aceitamos muito bem as diferenças. Nossas instituições públicas
põem em prática os ditames da nossa Constituição. Nosso poder público é isento
de influências estranhas ao Estado, como religiões e preconceitos históricos.
Aqui, cada um tem a liberdade de ser o que é, e ninguém tem o direito de
interferir na vida pessoal do seu compatriota. Temos uma Comissão de Direitos
Humanos em mãos prontas para o cargo, mãos que sabem que somos todos
merecedores da mesma atenção, cuidado e consideração por parte do povo em geral
e das instituições. Eu arriscaria dizer, inclusive, que política é nosso forte.
Nosso sistema partidário visa tão somente a manutenção do bem estar de nossos
habitantes. Nossos políticos rechaçam gastos excessivos com seus gabinetes e
pessoal, e expõem seus gastos sem subterfúgios burocráticos nem negociatas
escusas a portas fechadas. Todas as atenções dos nossos caros políticos voltam-se
à boa utilização do dinheiro público. Sabe por quê? Porque somos o país do
futuro.
E
um país do futuro precisa de habitantes saudáveis, claro. Saúde é uma de nossas
prioridades. Desde o nascimento até a velhice, a preocupação do poder público é
que cada um de nossos habitantes tenha pronto acesso à mais alta tecnologia na
área da saúde, em instalações modernas e em número condizente com as pessoas
que delas necessitam. Cenas de sofrimento em corredores de hospitais? Isso é
pré-história. Aqui a vida humana é respeitada, como eu frisei antes. A vida
valorizada constrói mais, trabalha com mais afinco, dentro das múltiplas
oportunidades que se apresentam. Porque emprego aqui também não falta. Nossas
engrenagens sociais proporcionam que aqueles que querem dar emprego possam
fazê-lo sem ser excessivamente onerados em seus custos. Os benefícios aqui
visam sempre a base da pirâmide: um povo produtivo e bem assistido faz uma
nação poderosa.
Nossa
educação pública é de excelente qualidade, pois temos a certeza de que um povo
bem instruído é a espinha dorsal de uma sociedade que visa um país igual para
todos. Um povo instruído sabe analisar bem o andar da sociedade, sabe julgar o
que é correto ou não. Sabe comprovar no dia-a-dia que está tendo seu dinheiro
bem aplicado. Sabe analisar tudo o que é publicado na imprensa, tomando as
atitudes corretas e protestando pública e homogeneamente quando sente que seus
direitos correm o risco de serem usurpados. E isso tudo se reflete no
cotidiano, pois o cidadão comum multiplica esses valores, comportando-se com
lisura e honestidade com o próximo. O clima é de confiança total, tanto que
segurança pública não é uma preocupação extrema por aqui. Como temos um povo
instruído, vivendo numa sociedade bem constituída, com emprego para todos e
serviços públicos de alto padrão, poucos são os que se veem coagidos e forçados
ao crime. Aqui, todos têm as mesmas chances de vencer.
Te
disseram o quê? Que estamos destruindo nossa natureza? Que cobramos os
governantes, mas não aplicamos nossas demandas no cotidiano? Que sempre
queremos tirar vantagem em tudo? Que estamos nos agredindo em função de credos
pessoais? Que aceitamos passivamente os absurdos institucionais porque nos
jogam “brioches” midiáticos? Okay, você venceu. Não mandei chegar aqui num
Primeiro de Abril.