segunda-feira, 1 de abril de 2013

Seja Bem-Vindo


Bom dia, seu E.T. Tudo bem? Cansou muito da viagem? Então chegou ao lugar certo. Se tem uma coisa que nós entendemos por aqui é como receber visitantes de outras paragens. Haja visto nossos aeroportos, verdadeiros símbolos da organização e da infraestrutura apropriada, necessárias a uma nação de dimensões continentais. Não sei se na sua nave você trouxe algum veículo terrestre. Caso tenha trazido, pode ficar sossegado: nossa malha viária também honra o tamanho do país, com estradas bem construídas e geridas. Se não trouxe, podemos dar um jeito: nossos veículos automotores saem por preços módicos, condizentes com a realidade financeira de nossos habitantes. Ainda há a alternativa do transporte ferroviário, onde nós não cometemos o pecado de achar que se trata de um transporte obsoleto, típico raciocínio dos deslumbrados. E dentro de nossas cidades, transporte público não é um problema, pode ficar tranquilo. Privilegiamos o transporte de massa em detrimento aos veículos individuais, pois sabemos que um veículo de grande capacidade, novo e bem cuidado, carrega mais pessoas que apenas um automóvel. Aproveite e já arranje uma bicicleta, nossas cidades estão prontas para receber os adeptos dos meios de transporte limpos.

Como assim, “diferente”? Não tenha medo! Somos uma sociedade multicultural, multiétnica, aceitamos muito bem as diferenças. Nossas instituições públicas põem em prática os ditames da nossa Constituição. Nosso poder público é isento de influências estranhas ao Estado, como religiões e preconceitos históricos. Aqui, cada um tem a liberdade de ser o que é, e ninguém tem o direito de interferir na vida pessoal do seu compatriota. Temos uma Comissão de Direitos Humanos em mãos prontas para o cargo, mãos que sabem que somos todos merecedores da mesma atenção, cuidado e consideração por parte do povo em geral e das instituições. Eu arriscaria dizer, inclusive, que política é nosso forte. Nosso sistema partidário visa tão somente a manutenção do bem estar de nossos habitantes. Nossos políticos rechaçam gastos excessivos com seus gabinetes e pessoal, e expõem seus gastos sem subterfúgios burocráticos nem negociatas escusas a portas fechadas. Todas as atenções dos nossos caros políticos voltam-se à boa utilização do dinheiro público. Sabe por quê? Porque somos o país do futuro.

E um país do futuro precisa de habitantes saudáveis, claro. Saúde é uma de nossas prioridades. Desde o nascimento até a velhice, a preocupação do poder público é que cada um de nossos habitantes tenha pronto acesso à mais alta tecnologia na área da saúde, em instalações modernas e em número condizente com as pessoas que delas necessitam. Cenas de sofrimento em corredores de hospitais? Isso é pré-história. Aqui a vida humana é respeitada, como eu frisei antes. A vida valorizada constrói mais, trabalha com mais afinco, dentro das múltiplas oportunidades que se apresentam. Porque emprego aqui também não falta. Nossas engrenagens sociais proporcionam que aqueles que querem dar emprego possam fazê-lo sem ser excessivamente onerados em seus custos. Os benefícios aqui visam sempre a base da pirâmide: um povo produtivo e bem assistido faz uma nação poderosa.

Nossa educação pública é de excelente qualidade, pois temos a certeza de que um povo bem instruído é a espinha dorsal de uma sociedade que visa um país igual para todos. Um povo instruído sabe analisar bem o andar da sociedade, sabe julgar o que é correto ou não. Sabe comprovar no dia-a-dia que está tendo seu dinheiro bem aplicado. Sabe analisar tudo o que é publicado na imprensa, tomando as atitudes corretas e protestando pública e homogeneamente quando sente que seus direitos correm o risco de serem usurpados. E isso tudo se reflete no cotidiano, pois o cidadão comum multiplica esses valores, comportando-se com lisura e honestidade com o próximo. O clima é de confiança total, tanto que segurança pública não é uma preocupação extrema por aqui. Como temos um povo instruído, vivendo numa sociedade bem constituída, com emprego para todos e serviços públicos de alto padrão, poucos são os que se veem coagidos e forçados ao crime. Aqui, todos têm as mesmas chances de vencer.

Te disseram o quê? Que estamos destruindo nossa natureza? Que cobramos os governantes, mas não aplicamos nossas demandas no cotidiano? Que sempre queremos tirar vantagem em tudo? Que estamos nos agredindo em função de credos pessoais? Que aceitamos passivamente os absurdos institucionais porque nos jogam “brioches” midiáticos? Okay, você venceu. Não mandei chegar aqui num Primeiro de Abril.