Amo os felinos. Tenho dois gatos em casa, e certamente uma característica destes que sempre me marcou foi algo que muitos interpretam como indiferença, mas eu enxergo como sabedoria: a arte de observar à distância. Me identifico bastante com isso. "Gatices" e digressões filosóficas à parte, há algum tempo que venho observando as redes sociais com um pouco de distanciamento. Eu vivi durante tempos um verdadeiro dramalhão: começou com a paixão instantânea, para então viver um bom tempo às turras com Facebooks e afins, depois novas entregas de corpo e alma, para brigar novamente, e assim sucessivamente... Até que consegui colocar isto, tal e qual preconizo com outros elementos da vida, em seus devidos lugares.
A questão é que a coisa se retroalimenta: num mundo de mídias onipresentes, é muito fácil atrelar felicidade à visibilidade. A sucessão de posts, as selfies, linhas do tempo (que de lineares nada têm, por vezes correm atrás do próprio rabo). Somos empurrados, sugados, envolvidos. E somos mesmo. Eu, você e todo mundo. Mas vê-se que as coisas estão beirando o absurdo quando determinados limites do bom gosto são extrapolados. Não estou julgando a pessoa, mas analisando a atitude: selfie à frente do portarretrato em cima do caixão do político famoso... E sorrindo?! O defunto nem esfriou e alguém já quer esquentar sua timeline com o fato do momento? Tenhamos modos! Quando nos percebermos portando smartphones, tablets e demais gadgets, mas tivermos deixado o respeito ao próximo na garagem, jogado numa caixa de papelão junto à máquina de escrever, é hora de por a mão na consciência.
Com grande poder vem grande responsabilidade. Diz-se que uma das grandes mágoas de Santos Dumont foi ver aviões empregados na guerra; ainda que existam teorias razoavelmente fundamentadas de que ele nunca disse/sentiu isso, outras corroboram, mas isso não importa. O precioso aí é o raciocínio, independente do autor: o avião foi criado para nos aproximarmos, não para nos aniquilarmos. As redes sociais foram criadas também para nos aproximarmos, para socializarmos. Mas a celeridade da comunicação virtual, e o poder de reverberação que esta possui, acaba por criar visões do inferno, não pelo retrato em si, mas pelo baixo sentimento que carregam. E não há só visões horrendas, mas também calúnias gratuitas, linchamentos sem fundamento, e demais crimes, sejam eles contra a honra, a dignidade ou a vida. O ser humano é uma coletânea de imperfeições, e quanto mais precisa e de melhor resolução for a tecnologia utilizada, mais horroroso será o retrato que não for devidamente avaliado antes de ser publicado.
Por isso, como bom gato, silencioso e de olhos atentos em cima da estante, tenho observado com muito gosto as odes à desconexão que vem sendo recitadas em vários formatos. Estabelecimentos que cortaram o wi-fi e bloquearam o 3G/4G em seus perímetros; uma campanha sábia e bem humorada, retratando momentos cotidianos ornados com um adesivo onde lê-se que aquilo "não está disponível" na loja virtual de aplicativos que é hype; uma deliciosa charge em que o personagem dizia que havia vivenciado um momento tão, mas TÃO bom, que ninguém se lembrou de tirar fotos; entre tantas outras. Não é necessário ser fundamentalista, os excessos, sejam eles quais forem, são nocivos. Não se pode condenar a evolução tecnológica, nem creditar apenas a esta o futuro de nossa espécie. Igualmente, demonizar as redes sociais é burro e contraproducente. Apenas não podemos esquecer que elas que devem trabalhar para nós, e não o inverso. O futuro de nossa espécie...é a espécie. Olho no olho, pele na pele, e por aí vai. Quanto mais nos desconectarmos virtualmente e nos reconectarmos fisicamente, mais nos afastaremos do abismo da desumanidade, um buraco negro que progressivamente vem nos engolindo enquanto espécie, e do qual provavelmente tiraremos uma foto antes de sermos tragados.
A questão é que a coisa se retroalimenta: num mundo de mídias onipresentes, é muito fácil atrelar felicidade à visibilidade. A sucessão de posts, as selfies, linhas do tempo (que de lineares nada têm, por vezes correm atrás do próprio rabo). Somos empurrados, sugados, envolvidos. E somos mesmo. Eu, você e todo mundo. Mas vê-se que as coisas estão beirando o absurdo quando determinados limites do bom gosto são extrapolados. Não estou julgando a pessoa, mas analisando a atitude: selfie à frente do portarretrato em cima do caixão do político famoso... E sorrindo?! O defunto nem esfriou e alguém já quer esquentar sua timeline com o fato do momento? Tenhamos modos! Quando nos percebermos portando smartphones, tablets e demais gadgets, mas tivermos deixado o respeito ao próximo na garagem, jogado numa caixa de papelão junto à máquina de escrever, é hora de por a mão na consciência.
Com grande poder vem grande responsabilidade. Diz-se que uma das grandes mágoas de Santos Dumont foi ver aviões empregados na guerra; ainda que existam teorias razoavelmente fundamentadas de que ele nunca disse/sentiu isso, outras corroboram, mas isso não importa. O precioso aí é o raciocínio, independente do autor: o avião foi criado para nos aproximarmos, não para nos aniquilarmos. As redes sociais foram criadas também para nos aproximarmos, para socializarmos. Mas a celeridade da comunicação virtual, e o poder de reverberação que esta possui, acaba por criar visões do inferno, não pelo retrato em si, mas pelo baixo sentimento que carregam. E não há só visões horrendas, mas também calúnias gratuitas, linchamentos sem fundamento, e demais crimes, sejam eles contra a honra, a dignidade ou a vida. O ser humano é uma coletânea de imperfeições, e quanto mais precisa e de melhor resolução for a tecnologia utilizada, mais horroroso será o retrato que não for devidamente avaliado antes de ser publicado.
Por isso, como bom gato, silencioso e de olhos atentos em cima da estante, tenho observado com muito gosto as odes à desconexão que vem sendo recitadas em vários formatos. Estabelecimentos que cortaram o wi-fi e bloquearam o 3G/4G em seus perímetros; uma campanha sábia e bem humorada, retratando momentos cotidianos ornados com um adesivo onde lê-se que aquilo "não está disponível" na loja virtual de aplicativos que é hype; uma deliciosa charge em que o personagem dizia que havia vivenciado um momento tão, mas TÃO bom, que ninguém se lembrou de tirar fotos; entre tantas outras. Não é necessário ser fundamentalista, os excessos, sejam eles quais forem, são nocivos. Não se pode condenar a evolução tecnológica, nem creditar apenas a esta o futuro de nossa espécie. Igualmente, demonizar as redes sociais é burro e contraproducente. Apenas não podemos esquecer que elas que devem trabalhar para nós, e não o inverso. O futuro de nossa espécie...é a espécie. Olho no olho, pele na pele, e por aí vai. Quanto mais nos desconectarmos virtualmente e nos reconectarmos fisicamente, mais nos afastaremos do abismo da desumanidade, um buraco negro que progressivamente vem nos engolindo enquanto espécie, e do qual provavelmente tiraremos uma foto antes de sermos tragados.
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Vai, me fala. ;-)