quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

É Para Sempre


A dor da perda de alguém. O “nunca mais”. Frio, sem fundo, e definitivo. Talvez a dor que o ser humano melhor saiba dissecar, que o digam os escritores, os músicos, os desconhecidos que puxam papo conosco... E o propósito destas linhas é dissecar uma perda mesmo.

A perda de um familiar é uma situação deveras específica. Cada família tem a sua dinâmica, as suas afinidades particulares (brigas igualmente); mas família a gente não escolhe. Família é multiformatos, cada um tem o seus conceitos de “família” e “parentes”, cada perda depende de cada relação, de cada... família. Já perdi familiares amados, sei como cada dor foi. Mas o que perder um tio foi para mim, por exemplo, pode não ser a mesma coisa para você. Vamos largar a hipocrisia e confrontar a verdade: amor incondicional é só de pais para proles, e ainda assim há exceções.  Não vou me arriscar, por absoluta ignorância, na questão da perda de um filho. Vi com uma de minhas avós (que já não está mais aqui, aliás) o quão devastador isso pode ser. Mas se não sei o que é ter um filho, não tenho sequer como me aproximar do que venha a ser perder um.

Amor é um assunto mais complicado; eu acho que é como um sequestro, que só vai em frente, quando vai, devido à Síndrome de Estocolmo. Nos apaixonamos por quem nos raptou (e que tão bem sabe apertar nossos botões, na sequência correta). Portanto, recuperar-se da perda de um é processo particular. Mal ou bem, a gente acaba arranjando outro, se quiser. Fica um buraco no peito, pode ser que nunca mais se ame da mesma forma; tenha falecido ou não, um amor perdido deve ser tratado como tal, em nome de sua própria saúde. Amor envolve sexo, suor, lágrimas e juras infinitas. Com tanta troca assim, cada um processa a perda como quiser: manifestações artísticas, farras etílicas, “passadas de rodo” históricas, isso e muito mais, e tudo regado a muito chocolate.

Agora, perder um amigo... Quem perde um amigo, perde um universo (de regras particulares, diga-se). Porque amizade verdadeira também começa com um “Big Bang”. Essa eclosão, esse momento de gênese, pode ser um brinde entre duas tulipas de chope geladíssimo, pode ser uma gargalhada conjunta depois de um comentário extremamente irônico no local de trabalho, pode ser tanta coisa... Já disse Aristóteles: “Amizade é haver uma alma em dois corpos”. A amizade fraterna envolve um pouco daquela química da paixão, só que (a princípio, “cadum cadum”) sem o sexo. É um encaixe de alma. Um encaixe que, como disse acima, constrói um universo. E são vários universos, feito um multiverso, que perfazem o que chamamos de “roda de amigos”. Uma roda de liberdade, troça, um pouco de anarquia e muito carinho. Quem já morou longe de sua terra sabe o quão família uma roda de amigos pode se tornar. Com o tempo, aprendemos quem são os nossos reais amigos (em especial quando os ventos não são favoráveis; aí sim separamos o joio do trigo).

E perder um amigo, principalmente um irmão de alma, é perder o lado físico de algo que você construiu a quatro mãos, em igualdade de condições, sem hierarquias e sem obrigações pré-existentes. Uma convivência voluntária e pacífica que, em seu mais metafísico aspecto, foi um produto do acaso. Facilitado por circunstâncias, pode ser, mas que foi uma colisão de vidas. Somos sete bilhões de cabeças neste planeta, quase duzentos milhões só em nosso país. Criar um verdadeiro vínculo de amizade é, acima de tudo, uma bênção. Família em primeiro lugar, ao menos para mim; amor tem o seu próprio lugar (conforme o desenrolar, claro). Mas amizade, essa sim, é “o” lugar. Lugar de rir, chorar, beber, dar Coca-Cola quando a coisa pegar, dar bronca, dar dica, comprar briga, ganhar visão de mundo e, acima de tudo, aproveitar a vida.

P.S.: Ainda bem, não perdi nenhum grande amigo recentemente. Mas um amigo querido acaba de perder um amigo-irmão, e é para ambos que dedico estas palavras. Além de dedicá-las ao “figuraça” Maurício, irmão de alma que, há sete primaveras, está zoando com todo mundo em alguma nuvem, alguma estrela lá em cima; e que para sempre será lembrado como alguém que veio aqui para mostrar que é alegremente que se leva a vida.

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